Coisas de Mulher

Série de Artigos para a Revista Graça

 
Era um grupo alegre que se reunia na sala aconchegante daquela casa num sítio próximo da cidade de São Carlos. A conversa amistosa e a troca de notícias indicavam tratar-se de amigos chegados que não se encontravam havia algum tempo.

De repente, o pastor visitante, que falava com entusiasmo do motivo de sua ida ali, voltou-se para mim e perguntou a respeito do meu último livro, lançado aqueles dias. Quando falei que era sobre o ministério da mulher como ajudadora, ele mostrou vivo interesse, pensando tratar-se de um debate sobre o trabalho da mulher na igreja. Entretanto, quando expliquei que eu falava do ministério da mulher como ajudadora do seu marido, principalmente dentro do lar, ele falou: “Ah! Coisas de mulher!” E voltou a atenção para coisas mais importantes.

Se eu não tivesse escrito um livro sobre as diferenças entre homens e mulheres, talvez ficasse frustrada com a reação daquele pastor. Entretanto, sei que poucos homens gostam de conversar sobre coisas que interessam profundamente a nós, mulheres, e por duas razões bem simples. 

Primeiro, surpresa! as mulheres gostam de falar mais do que os homens! A exceção fica por conta dos políticos. Minha professora de interpretação no curso de tradutores, uma das primeiras intérpretes profissionais do Brasil, conta que estreou em Washington, traduzindo os quinze minutos de palavras empoladas que um deputado brasileiro usou para agradecer a recepção do governo norte-americano. Angela, inexperiente e cansada do palavrório, disse aos dignatários estrangeiros: “O deputado agradece a atenção que lhe foi dispensada.” 

No geral, entretanto, as meninas falam mais e se comunicam melhor desde pequeninas, e aprendem a ler mais cedo do que os meninos. Já fomos programadas por nosso Criador com uma habilidade especial na área da linguagem pois é com ela que tecemos a rede que liga e sustenta os relacionamentos. 

O segundo motivo fica por conta da linguagem diferente que usamos. A mulher usa a linguagem do coração com muito maior freqüência, para falar dos seus sentimentos. No comecinho do movimento cristão masculino nos Estados Unidos, perto de uma centena de homens se reuniu num acampamento para estudar o que Deus lhes falava naquele momento. A única condição imposta é a de que não deveriam falar de esportes, nem de política, nem de trabalho durante o tempo que ali permanecessem. Um silêncio sepulcral imperou durante os três dias do acampamento. Se não falassem de fatos, aqueles homens não sabiam do que falar. Você acha que isso seria problema para as mulheres?

As mulheres se interessam mais por pessoas do que por coisas e idéias abstratas. O Dr. Paul Tournier, ilustre psiquiatra cristão, conta em um de seus livros como gostava de filosofar sobre vários assuntos. Certo dia, enquanto ele discorria empolgado sobre os malefícios do divórcio, sua esposa o interrompeu com a desconcertante pergunta: “Mas de quem você está falando?” O Dr. Tournier, que ensinara a respeito da capacidade das mulheres de se envolverem com as pessoas, percebeu então que, embora ele se interessasse pelo divórcio como uma questão teórica, sua esposa pensava logo em como essa idéia se traduzia na vida de alguém. 

Assim, é de coisas de mulher que estaremos falando aqui - coisas do coração, coisas de relacionamentos, coisas que talvez só a nós interessem, coisas que a Palavra do Deus que nos criou assim ensina para que possamos viver uma vida abundante.