Artigo
para a SAF em Revista
Famílias
desestruturadas não são coisa de hoje. A Palavra de Deus nos dá
um retrato autêntico das dificuldades enfrentadas pelas famílias,
começando com a de Adão e Eva. Imagine você criar dois filhos
e depois um matar o outro! Que sofrimento pode ser maior do que
esse para os pais?
Essa foi a
realidade que a escolha dos dois primeiros seres humanos legaram
a todos nós. Separados de Deus ao escolherem seu próprio
caminho, eles logo entraram em conflito. A harmonia que haviam
desfrutado até então evaporou-se ao calor das acusações, dos
sentimentos de vergonha e culpa que os levaram a esconder suas
diferenças um do outro e a esconder-se de Deus.
O pecado
distorceu as características essenciais do homem e da mulher,
transformando o que Deus criou para o bem em fonte de tensão e
conflito. O homem, criado para ser o provedor, o protetor,
tenderia agora a ser fisicamente dominador, emocionalmente
omisso. A mulher, sentindo a tendência de fuga do marido,
tentaria controlá-lo ativa ou passivamente, procurando modificá-lo
para corresponder às suas expectativas ou assumindo uma postura
sufocante de total dependência dele. E seus filhos já
nasceriam com corações inclinados à rebeldia. Provérbios
22:15 nos diz que a estultícia, ou insensatez, está ligada ao
coração da criança. Insensatez é o oposto da sabedoria que
provém do temor ao Senhor. As crianças já nascem afastadas de
Deus, sem conhecê-Lo e sem temê-Lo, e essa insensatez se
reflete primeiro na rebeldia contra os pais.
O que Adão e
Eva plantaram, todos os seres humanos colhem.
Entretanto,
Deus não nos abandonou aos nossos próprios recursos. Ele nos
chama à restauração do relacionamento consigo através de
Jesus Cristo. Seu Espírito agora opera em nós, moldando-nos à
imagem do Filho, usando para esse objetivo tudo o que nos
permite acontecer: “Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito. Porque aos que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem
de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos” (Rm 8:28-29).
Somos agora
parte de uma família e, como tal, parecemo-nos uns com os
outros porque temos a vida de Cristo em nós. Através da
restauração de cada indivíduo, Deus quer restaurar as famílias
à harmonia, crescimento e bênção que Ele planejou que ela
oferecesse. E nos deu instruções do que é essencial fazermos
para restabelecer o equilíbrio que foi perdido com o pecado.
O que Deus diz aos maridos.
Em Efésios 5:25-33, Ele diz em essência: “Maridos,
amem suas esposas como Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela, e como vocês amam a si mesmos.”
O verbo amar, usada pelo apóstolo Paulo, vem do grego agapao
que significa afeto benevolente, amor doador, sempre voltado
para o bem da pessoa amada. É a mesma palavra usada para falar
do amor altruísta de Deus, totalmente voltado para o ser amado,
ao contrário do amor egoísta, que é voltado para a satisfação
das próprias necessidades. Não é, portanto, um amor natural
ao ser humano mas pode existir quando o amor de Deus encher o
coração da pessoa. É o amor pelo qual todo coração de
mulher anseia, em suas diversas facetas: Iniciativa, doação da
própria vida se for preciso, dedicação, cuidado, proteção e
mistério.
Nós amamos a
Deus porque Ele nos amou primeiro. Ele tomou a iniciativa,
amando, buscando, atraindo, oferecendo as condições de nós
retribuirmos o Seu amor. É o retrato do varão buscando e
cortejando a sua amada. O homem é mais agente, a mulher,
reagente. Quando ele toma a iniciativa no processo do
relacionamento com uma mulher, está oferecendo a ela as
melhores condições de exercer sua feminilidade. Na oferta e
manutenção do amor, principalmente, o marido estará provendo
o ambiente propício para uma reação apropriada da esposa. É
notório na passagem citada que o apóstolo Paulo não ordena às
esposas amarem seus maridos. Nem precisa. É praticamente impossível
à esposa que for amada com o amor agape
deixar de retribuir ao amor do marido.
Outro aspecto
importante do amor que o marido deve dedicar à esposa é o da
doação. Cristo amou a igreja e se entregou por ela, dando a própria
vida. Ninguém pode duvidar da extensão de um amor como esse. O
marido dá a vida pela esposa, não em algum gesto grandiloqüente
de alta coragem em circunstâncias perigosas, mas nas pequenas
concessões, nos pequenos gestos, no cuidado que tem para com as
necessidades dela, na maneira gentil e respeitosa como a trata
em particular e na frente dos outros.
O amor do
marido deve servir de cobertura, de proteção sobre a esposa.
Essa é a figura que encontramos no Antigo Testamento, quando o
noivo cobria a noiva com seu manto, oferecendo-lhe sua proteção.
Coberta pela masculinidade do marido, a esposa pode ser livre
para se realizar plenamente como mulher e como pessoa. Quando o
marido ama a esposa, rejubila-se com seus dons e capacidades e
promove seu crescimento e realização, nem que para isso seja
preciso assumir algumas tarefas dentro de casa, permitindo-lhe
tempo e liberdade para buscar interesses que lhe sejam
particulares.
O amor de Jesus
pela igreja visa a sua santificação e aperfeiçoamento, o que
redunda em glória para Ele próprio. O amor do marido que é
calcado nesse exemplo visa o aperfeiçoamento, o crescimento, o
amadurecimento e a restauração da pessoa que sua esposa foi
criada para ser, o que redundará em felicidade e gozo para ele
próprio. O marido que trata a esposa como uma rainha terá uma
rainha por esposa.
Esse é o mistério
do amor no
relacionamento conjugal. Simbolizado pela redondeza das alianças
de ouro, ele dá início a um processo infindo de doação que
constitui o paradoxo de que é dando que se recebe, é doando a
si mesmo que se cresce, é libertando que se liberta.
O que Deus
diz às esposas
“Esposas, sejam submissas a seus maridos no Senhor,
respeitando-os” (Efésios 5:22-24,33).
Sei que
muitas mulheres têm dificuldade em entender o conceito de
submissão, mesmo mulheres crentes. Mas, quando entendemos o que
Deus está nos dizendo, vemos que, em última instância, o que
Ele está pedindo é que nos submetamos a Ele, à Sua sabedoria,
e ao Seu propósito para nós pois só dentro dele seremos
realmente felizes e realizadas.
A primeira coisa que precisamos entender a respeito da
submissão de que trata a Bíblia é que a ordem foi dada a
pessoas que devem estar cheias do Espírito Santo (Ef. 5:18-21).
Trata-se, portanto, de uma questão espiritual.
Para entendermos exatamente o que Deus está pedindo de
nós, é interessante notar a palavra original – hupotasso - que o apóstolo usou ao dirigir-se às esposas. É uma
palavra que indica a atitude de colocar-se
voluntariamente à disposição de alguém, alinhar-se com ele e ser sensível às suas necessidades. Como verbo
reflexivo indica que o sujeito da ação é também o seu objeto.
Somente a própria mulher pode se submeter ao marido. Ninguém
pode obrigá-la a isso.
Quando escreveu essas palavras, Paulo se dirigia a
mulheres que eram pouco mais do que escravas em suas próprias
famílias, sem direito sobre suas vidas. E, no entanto, ele lhes
disse que deviam ser submissas porque submissão é algo
interior, é uma atitude do coração e não apenas uma condição
externa.
A submissão que Deus ordena não é da mulher para o
homem. É apenas da esposa para com o marido. Nos nossos dias,
uma mulher pode exercer posição de autoridade e comandar até
mesmo uma nação, mas dentro de seu lar, ela deve ser submissa
à liderança de seu marido.
Submissão não é condicional. Não encontramos nessa
passagem a palavrinha “se” : Se seu marido a amar como Deus
ordena, então você deve se submeter a ele. Não! E aí reside
nossa maior dificuldade – a de respeitar nosso marido mesmo
que ele esteja longe de fazer o que Deus lhe ordena.
Submissão não é simples obediência, passividade,
rendição, co-dependência, nem omissão. É uma atitude de
entrega voluntária e verdadeira de nós mesmas, é a doação
de tudo o que somos em favor do outro.
O maior exemplo que temos desse tipo de atitude foi a
que Jesus teve quando renunciou a todos os seus direitos para
nascer neste mundo como ser humano, assumindo a forma de servo e
entregando Sua vida por nós. Ele é o exemplo dado aos maridos
e às esposas e não está nos pedindo nada que Ele mesmo não
tenha feito. Ainda assim, na maior parte do tempo é
praticamente impossível fazer o que Ele nos diz por nossas próprias
forças. E é nessas horas que Seu poder pode vencer nossa
fraqueza e operar em nós apesar de nós mesmas (2 Cor. 12:9).
Ao tratar seu marido com respeito, a esposa está
cooperando para que ele seja tudo aquilo que Deus o fez para
ser, sendo, portanto, uma verdadeira ajudadora, uma verdadeira
“ezer”.
Aos pais, Deus ordena que criem seus filhos com
disciplina e lhes ensinem a obedecer, para o bem deles (Ef.
6:1-4).
A criança que é deixada por conta própria vem a
envergonhar os pais (Prov. 29:15). Por quê? Embora seja difícil
de acreditar isso quando vemos um bebezinho com aquele olhar e
sorriso tão inocentes, ninguém é naturalmente bom. Nascemos
biologicamente vivos mas espiritualmente mortos, afastados de
Deus. Por isso, cada bebê que vem ao mundo precisa ser ensinado
a andar nos caminhos do bem, obedecendo a seus pais, aprendendo
a reconhecer os limites da sua vontade. E essa é a tarefa que
Deus deu aos pais.
Cada criança
que Deus põe no mundo tem um valor inimaginável. É obra das
Suas mãos. Ele mesmo a entreteceu no ventre materno e lhe deu
as características que desejou. Assim, os pais devem conviver
com seus filhos e observá-los para descobrir quais as tendências
boas que Deus colocou em cada um deles para favorecer o seu
desenvolvimento, enquanto corrigem e disciplinam a tendência
para a rebeldia que os afastará primeiro deles mesmos e, mais
tarde, de Deus.
É no ambiente familiar, mesmo aquele nos quais as
pessoas estão se esforçando para dar o melhor de si, que seus
membros sentirão as maiores alegrias mas também suas maiores
tristezas. Como seres essencialmente relacionais, é na área
dos relacionamentos que mais nos sentimos vulneráveis. Mas Deus
vem ao nosso encontro na nossa vulnerabilidade.
Ele tem poder para mudar qualquer circunstância de
nossa vida num abrir e fechar de olhos. Quando oramos
desesperadamente por mudanças, e elas não ocorrem, é porque
Ele está mais interessado em mudar o nosso coração, em
corrigir a nossa perspectiva. Diante de circunstâncias difíceis,
indesejáveis, temos a escolha de brigar, manipular ou nos
omitir, ou então, entregando-nos “nas mãos daquele que julga
retamente” (1 Pe 2:23), permitir que Ele nos use como
instrumentos Seus nessas mesmas circunstâncias até que Ele
escolha mudá-las ou que nós tenhamos mudado.
Talvez, depois de ler tudo isto, você esteja pensando:
Não posso, não consigo, é demais para mim. Sua vida familiar
pode estar destroçada, seus relacionamentos com seu marido e
filhos áridos e conturbados. Talvez você esteja pensando que
é tarde demais para fazer alguma coisa e salvar seu casamento.
Mas é nesse exato ponto que Deus vem ao seu encontro e diz:
“Deixe por minha conta. Deixe que eu aja através de você,
que eu ame através de você.”
Ele
não promete restaurar todos os relacionamentos quebrados, mas promete
que, quando Lhe abrimos a porta do nosso coração, Ele entrará e
ficará conosco, sustentando-nos com Sua força e produzindo lindos
frutos em nossa vida.
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