Eva Fora do Paraíso

Série de Artigos para a Revista Graça


Eu voltava de ônibus de São Carlos (SP) para a capital. Sentei-me atrás de duas moças que, aparentemente, não se conheciam antes. Começaram as duas a conversar assim que tomaram seus lugares, e falaram sem parar por horas seguidas. Embora eu não pretendesse "bisbilhotar", não pude deixar de ouvir a conversa, que durou o tempo todo da viagem, e ficar conhecendo detalhes íntimos da vida de uma delas. Alguns passageiros mostraram-se incomodados com aquele falatório, mas elas nem perceberam.

Fatos semelhantes ao que descrevi fazem com que as mulheres tenham a fama de "faladeiras", e levantam uma questão importante: a distorção das qualidades que Deus colocou nas mulheres para exercerem a missão de ajudadoras. Desde que Eva foi expulsa do Paraíso, essas qualidades estão sendo mal utilizadas.

Para tornar mais clara a discussão desse questionamento, lembrei-me de uma imagem interessante. A águia é uma ave considerada o símbolo da liberdade por voar, majestosamente, a determinadas alturas que nenhuma outra consegue atingir. Para que ela consiga o seu intento, é preciso que tenha características especiais. A envergadura das asas, ou seja, a área que elas cobrem quando estão abertas, é desproporcional ao tamanho do corpo — pequeno demais se comparado às asas. Acontece que essa ave foi criada para voar em grandes alturas, onde as correntes de vento sustentam suas asas e ela pode planar com um mínimo de esforço. Isso lhe permite vencer enormes distâncias. Se tentar voar perto do chão, o tamanho de suas asas vira um "trambolho", e ela tem de fazer um esforço enorme para se manter no ar, num vôo desajeitado e sem graça.

Assim como a águia, nós, mulheres, fomos feitas com características especiais que, quando sustentadas pelo vento do Espírito, nos elevam a grandes alturas. Isso significa que a nossa missão é elevar nosso espírito por meio da Palavra de Deus, sendo a sua via de comunicação. Poupando esforços inúteis, atingiremos alvos que jamais alcançaríamos por nossas próprias forças. Se, no entanto, perdemos de vista esse objetivo, e tentamos viver por conta própria, essas qualidades podem vir a ser um estorvo.

A mulher que fala demais não é a boa comunicadora que Deus planejou que fosse. É apenas falante e demonstra essa particularidade, distorcida do seu propósito original, num esforço desajeitado e desgracioso de satisfazer sua necessidade de se comunicar.

O aguçado "sentido da pessoa", conforme expressa o psiquiatra cristão Dr. Paul Tournier, com que Deus nos dotou, se transforma em forte carência, a qual nos leva a exageros, sufocando e impelindo as pessoas a quem deveríamos ajudar.

Mas não precisa ser assim. Há uma esperança forte e real para as "Evas" que vivem hoje fora do Paraíso. Se voarmos rente ao chão, vivendo o dia-a-dia com nossas próprias forças, nos tornaremos desajeitadas e desgraciosas. Entretanto, podemos alçar vôos mais altos, atingindo os lugares onde fomos destinadas a viver graciosa e majestosamente, se formos sustentadas pelo poder Daquele que disse: "Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças. subirão com asas como águias" (Isaías 40:31).Quando esperamos no Senhor, Ele nos restaura para voltarmos a ser tudo o que Ele determinou que fôssemos quando nos criou mulheres.