Livres...Ou Novamente Escravas?

Artigo para a Revista Ultimato.


Rebeca é uma mulher jovem, de seus trinta e poucos anos. É formada em engenharia e já obteve seu mestrado. Tem duas filhinhas e vive o drama de tentar conciliar uma carreira condizente com seu preparo e o tempo que deseja investir nas filhas. Carina tem quase a mesma idade. Tem diploma universitário, mas resolveu deixar o trabalho por uns tempos, enquanto seus dois filhos ainda são pequenos. Está procurando desesperadamente um emprego no momento. Foi abandonada pelo marido de mais de dez anos e enfrenta sérias dificuldades financeiras. Denise, um pouco mais velha, sente-se desvalorizada e tem de se defender constantemente porque, apesar de ser formada em curso universitário, tomou junto com o marido a decisão de dedicar-se aos filhos pequenos. Embora exerça muitas atividades na igreja, não abre mão das suas prioridades e a família vem primeiro. Rute, que veio de um lar desfeito, resolveu que nada a faria abrir mão do seu trabalho remunerado como secretária executiva. Não queria viver o mesmo drama que a mãe. Não está vivendo. Seu casamento também se desfez, mas pelo menos ela tem sua profissão e um salário, pelos quais agradece a Deus todos os dias. Antonia é faxineira e mãe de três filhos pequenos. Está sempre dividida entre trabalhar todos os dias da semana e sobrecarregar a filha de dez anos, que cuida dos irmãos depois que todos chegam da escola, e diminuir sua carga de trabalho mas também alguns dos benefícios que o dinheirinho a mais pode comprar.

O que todas essas mulheres crentes têm em comum? Elas estão vivendo uma nova realidade, na qual a liberdade conquistada ao longo do século que acabou de passar lhes abre novas oportunidades de realização mas também as faz defrontar-se com escolhas muito difíceis. Tenho visto muitas mulheres exaustas, estressadas, doentes mesmo, correndo em todas as direções, sem saber o que mais fazer para alcançar tudo o que desejam.

Junto com as mulheres, suas famílias estão sofrendo. Uma análise, feita por importante revista de negócios brasileira, ao falar da sociedade mais rica dos nossos dias — a norte-americana, chega à conclusão de que as pessoas, tanto os homens quanto as mulheres, estão trabalhando muito, ganhando muito, comprando muito, mas gastando cada vez menos tempo convivendo como família, desenvolvendo e usufruindo os relacionamentos interpessoais. Em meio a grande prosperidade econômica, o bem estar pessoal não está correspondendo ao material. 

Será que não está na hora de perguntarmos se esse é o rumo que nos trará a verdadeira realização, sem arrependimentos, culpa, amargura? 

Se voltarmos um pouco no tempo, veremos que a liberação feminina veio na forma de uma mentira embrulhada no papel transparente da verdade. Parecia verdade, tinha tons de verdade, mas não era. A verdade é que as mulheres têm um valor muito grande, que não estava sendo reconhecido, principalmente quando a influência feminina e o campo de sua principal atuação ficava restrito apenas ao lar. A mentira é que, para serem felizes e realizadas, as mulheres precisam ser como os homens. O mundo masculino foi apontado como o ideal, o real, o que tinha valor. 

Pouco a pouco essa mentira foi sendo comprada. Veio o tempo do unisex, da tentativa de provar que a mulher era igualzinha ao homem. Não se podia falar em influência hormonal, em tensão pré-menstrual que alguém já gritava que estavam tentando nos manter escravizadas. O papel da mulher como esposa e mãe foi sendo desvalorizado. Bem-sucedida era apenas a mulher que realizava alguma coisa fora de casa, que ocupava algum cargo importante no mundo dos negócios ou das artes, nem que para tanto tivesse deixado alguns casamentos e filhos pelo caminho. Conforme já havia advertido o Dr. Paul Tournier, psiquiatra cristão, assumimos para nós os valores que predominam na sociedade ocidental, negligenciando a valorização dos relacionamentos pessoais que representam a tendência afetiva feminina e passando a concentrar-nos em desempenho, eficiência, diplomas, posição - tudo que corresponde ao conceito masculino de realização.

O resultado dessa meia-liberação é que as próprias mulheres estão confusas quanto a quem são e o que querem da vida. Muitas vezes estão tendo de optar por coisas que não querem fazer, o menor de dois males. Se resolvem investir em seus relacionamentos, têm diante dos olhos o número cada vez maior de casamentos desfeitos, mesmo dentro dos círculos cristãos. Então, pode ser um investimento que no fim lhes trará perda em vez de lucro, como aconteceu com Carina e Rute. Se resolvem investir em si mesmas, em uma carreira, têm de conviver com a carga extra de trabalho, com o estresse de terem dois trabalhos de tempo integral, com as cobranças que lhe fazem o marido e os filhos, e, pior ainda, com as cobranças que ela mesma se faz. Pega por ter cão, pega por não ter.

Disse o Dr. Tournier em seu livro "A Missão da Mulher" que temos o sentido da pessoa, ou seja, para nós, o cuidado com a pessoa vem acima e antes de tudo. Em qualquer trabalho que façamos, trabalhamos para alguém. É por isso que as mulheres podem se realizar mesmo executando tarefas rotineiras e não remuneradas, se as estiverem fazendo pelas pessoas que amam. Por não levar em conta essa natureza feminina essencialmente relacional, a liberdade que temos hoje pode ser usada contra quem verdadeiramente somos, o que vem a ser outra forma de escravidão. Quer ver alguns exemplos?

Li estes dias que o Brasil é o primeiro país no mundo em número de cirurgias plásticas puramente estéticas, deixando para trás até países muito mais ricos do que o nosso. Esse número dá uma idéia da nossa preocupação com a beleza física. As mulheres estão vivendo escravizadas a um ideal imcompatível com as características mais suaves e arredondadas do corpo feminino. Malhação, regimes, tratamentos de todo tipo alimentam o desejo feminino natural por uma bela aparência física e consomem uma fortuna incalculável com a promessa de nos manter magras e musculosas, sem rugas nem cabelos brancos. Vamos para o túmulo, mas magras e esticadinhas por fora. Essa preocupação tem levado muitas mulheres jovens a sofrerem distúrbios alimentares como a anorexia nervosa e a bulimía, que podem causar a morte por inanição. 

Outro problema que as mulheres de hoje enfrentam é a desvalorização da maternidade e dos relacionamentos familiares. Apesar de se ter facilitado muito a vida da mãe que trabalha fora, o mundo fora do lar ainda não é um lugar confortável para quem tem outras preocupações além dele. Toda mãe sabe a dificuldade que é conciliar um dia normal de trabalho com os cuidados dos filhos pequenos. E sabe também que, se tirar algum tempo para ficar em casa, dificilmente será acolhida quando quiser voltar. Ela sofre com isso, a família sofre com isso, pois mulheres que passam oito ou mais horas por dia fora de casa não podem estar cultivando os relacionamentos como eles deveriam ser cuidados.

A liberação sexual feminina é mais uma forma de escravização. A mulher, pela própria flutuação de sua produção hormonal, é mais seletiva. Ela sabe que pode engravidar, e por isso considera a relação sexual muito mais do que um simples ato. Ele é o fecho físico de um relacionamento emocional satisfatório. Entretanto, a pílula anticoncepcional, e mais recentemente, os anúncios exagerados da eficiência dos preservativos, além da ênfase sobre o ato sexual em si, levaram a mulher a adotar uma atitude mais casual com relação ao sexo. O ato tomou precedência sobre compromisso, relacionamento. E todos perderam com isso. Nem os homens nem as mulheres estão mais realizados sexualmente. Ao contrário. Prova disso é a erotização da nossa cultura, a proliferação da pornografia, a busca desenfreada por uma satisfação que só a intimidade crescente de um relacionamento sexual estável e duradouro pode proporcionar.

Para não cairmos nessas armadilhas, é importante descobrirmos quem verdadeiramente somos e aprendermos a aceitar e valorizar nossa maneira feminina de ser. E só quem nos criou pode nos ensinar essa verdade. Dentro do plano de Deus para cada uma de nós, somos livres para nos realizar plenamente como pessoas femininas. O nosso valor não depende do que a sociedade diz, mas do fato de sermos parte vital de um plano maior do que qualquer uma de nós. Temos a segurança de nos saber amadas por Alguém que nunca nos abandonará, que pode prometer estar sempre ao nosso lado porque é o dono do tempo e do espaço. E suas instruções para nós são libertadoras. Dentro da sua vontade, nossa essência floresce, desabrochando na linda flor da verdadeira feminilidade. 

Quando aprendemos a nos ver pelos olhos de Deus, tendo nossa mente renovada por sua palavra, enxergamos com clareza onde temos de divergir da cultura atual e evitar sermos moldadas por ela.

Apreciamos a beleza física e cuidamos bem do nosso corpo, mas não nos deixamos dominar por propagandas enganosas. Encaramos com serenidade as rugas e os cabelos brancos, mesmo quando os disfarçamos, apreciando a maturidade que eles revelam. Respeitamos o nosso corpo, vestindo-o com discrição e modéstia em vez da sensualidade descarada da moda atual. Por estarmos cientes do nosso valor, queremos ser apreciadas pela totalidade da nossa pessoa, pela nossa feminilidade, não apenas pelo que somos por fora. Desenvolvemos um espírito manso e tranquilo, que nunca envelhece, mas vai se tornando cada vez mais atraente com o passar dos anos.

Apreciamos a beleza do plano de Deus para nós. Nossa vida de mulher é feita de fases, cada uma delas cheia de beleza própria. Há tempo para criar filhos pequenos, há tempo para trabalhar fora, há tempo para dedicar aos outros, há tempo para nós. No plano de Deus para nossas vidas, só não há tempo inútil. O que aprendemos numa fase da vida vai enriquecer e determinar a outra. Nunca vamos nos arrepender do tempo que investirmos nos relacionamentos pois as pessoas são a única coisa deste mundo que podemos ter conosco na eternidade. Esse investimento dá lucros eternos.

Apreciamos o dom da nossa sexualidade e recobramos o direito de dizer não. Sexo sem relacionamento, não. Sexo fora do casamento, não. Porque apreciamos a dádiva da sexualidade e valorizamos a profunda intimidade que a relação sexual proporciona, reservamos a doação que fazemos de nós mesmas nesse ato para aquele que assumir o compromisso de viver ao nosso lado e ajudar a cuidar dos filhos que possam ser gerados pelos dois. 

Que ninguém se iluda. A tarefa de nadar contra a correnteza não é fácil. Como estamos vivendo no meio de uma cultura alheia aos caminhos de Deus, vamos ter de conviver com perdas inevitáveis, como a traição conjugal, o abandono, o divórcio, a proliferação das doenças sexualmente transmissíveis atingindo esposas dentro de seus lares, trazidas por maridos cristãos infiéis. Não temos garantias de que estaremos livres de nenhum dos problemas que afetam a vida das mulheres hoje. Como Rebeca, Carina, Denise, Rute e Antonia.

A garantia que temos é a de que o nosso Deus é fiel e nunca nos abandonará. Ele é o nosso redentor, o nosso marido que nos acolhe com grandes misericórdias quando sofremos as perdas mais dolorosas para o nosso coração. Dele podemos depender em qualquer circunstância. Firmadas no seu amor, teremos discernimento para tomar as decisões certas, por mais difíceis que sejam. Dependentes da sua graça, podemos caminhar tranquilas, sabendo que o que nunca fizemos por merecer, não podemos perder. E essa graça cobre até os nossos erros e os transforma em bem para nós. É uma caminhada sobrenatural, 

eservada para aquelas que depositarem no Senhor a sua confiança total.
Você quer ser uma delas?