Artigo para Revista Seu Mundo

Maturidade

A pessoa que vejo quando olho no espelho parece conhecida, mas não identifico os cabelos grisalhos, os óculos, as rugas, rosto e corpo desgastados pelo passar dos anos. Mas essa não sou eu! Não me sinto desgastada, nem enrugada, mas serena, livre para ser quem sou, para me doar, para amar e servir, para viver com vigor e entusiasmo os chamados anos dourados da vida. O passar dos anos cobrou do meu corpo um preço, mas, com suas múltiplas e variadas experiências e oportunidades, trouxe algo mais precioso que a pele lisa e os cabelos escuros da juventude. Trouxe maturidade.

Em nossa cultura, velhice é sinônimo de tudo que as pessoas procuram evitar – juntas enferrujadas, dores incômodas que roubam a agilidade dos movimentos, artérias esclerosadas avisando que estão perto de parar de funcionar de vez, além dos sinais mais óbvios da aparência – rugas, cabelos brancos, flacidez, óculos. Cosméticos, cirurgias plásticas e inúmeros outros recursos são buscados com avidez na tentativa de fazer parar o tempo e até mesmo voltar atrás.

Por isso, quando se fala em maturidade, parece um disfarce, uma compensação pobre, uma palavra bonita para encobrir uma realidade desagradável, como se velhice e maturidade estivessem automaticamente entreligadas. Mas não é bem assim.

Velhice acontece com o corpo. A máquina que Deus entreteceu “de forma assombrosamente maravilhosa” vai-se desgastando com o passar dos anos, por mais bem cuidada que seja. Envelhecer é inevitável, mas amadurecer, não. A maturidade vem da renovação interior, segundo explica o apóstolo Paulo quando diz que, embora a nossa casa terrestre se corrompa, nosso ser interior se renova dia a dia, produzindo para nós eterno peso de glória.

Se não permitirmos que as experiências da vida nos ensinem e nos façam amadurecer, podemos chegar à velhice do corpo e da alma, sem crescimento, sem transformação, sem beleza.

O que é maturidade?

É serenidade. É enxergar claramente a realidade natural com olhos que já vislumbraram o sobrenatural. É ter uma visão aberta e realista das coisas que realmente importam na vida.

É liberdade. É encarar com tranqüilidade as próprias limitações e sentir-se livre para ser totalmente aberto, vulnerável mesmo quando isso trouxer sofrimento.

É generosidade. É ser voltado para os outros, buscando oportunidades de servir e ajudar. É enxergar como é pequeno o argueiro no olho do outro por ter removido a trava que estava no seu.

É discernimento. É aquela percepção intuitiva das coisas do espírito e da alma que nem sempre os olhos naturais enxergam. É enxergar cada aspecto da vida e do mundo pelos olhos do Deus que a ambos criou.

É sabedoria. É dobrar-se voluntariamente, não diante das circunstâncias, mas diante do Deus que está no controle das circunstâncias.

É intimidade com Deus. É estar de tal modo identificado com a Sua vontade que nada importa mais do que vê-la cumprida.

Francis Schaeffer, grande teólogo e pensador do século passado, foi acometido por um câncer fatal aos sessenta e poucos anos de idade. Quando lhe perguntaram se pedira a Deus que o curasse, respondeu: “A esta altura da minha vida, considero estranhamento impróprio pedir qualquer coisa a Deus. Só quero o que Lhe aprouver me dar.”

Essa é a maturidade do varão perfeito, aquele que reflete a imagem de Cristo em sua submissão perfeita à vontade do Pai e na entrega voluntária da própria vida aos propósitos sábios e eternos de Deus.

Maturidade é saber que a eternidade já começou aqui.