Artigo para a SAF em Revista

O Ministério da Auxiliadora

No minúsculo universo em que convivo, vejo a realidade dos problemas familiares e quanto sofrimento eles trazem às mulheres. Esta manhã, ligou-me uma filha pedindo oração por certa dificuldade que o filho pequeno está enfrentando na escola. Uma senhora que conheço bem está com o coração partido pelo comportamento rebelde da filha adolescente. Após um estudo sobre as mulheres numa igreja, uma senhora veio me pedir que orasse por ela, pois o marido avisou que estava saindo de casa. Quando estudamos a respeito da educação de filhos em uma cidade vizinha, uma senhora me procurou em prantos. Enfrentava sério problema com o filho, jovem adulto, e lutava para não perder a esperança de vê-lo restaurado um dia.

Não estou dizendo que os homens não sofram com essas coisas, mas, pela sua própria maneira de ser, conseguem separar os fatos, colocar os problemas num canto da mente e deixá-los lá se não houver nada que possam fazer no momento. As mulheres são diferentes. Os problemas que envolvem as pessoas queridas não lhes saem da mente. Elas simplesmente não conseguem deixar de pensar neles, de se envolver com eles.

Essa característica feminina faz parte integral da nossa maneira de ser, como fomos feitas e do motivo pelo qual fomos criadas da forma como fomos.

Quando Deus fez a mulher, disse que, apesar de tudo que Ele havia criado até então ser bom, ainda faltava alguma coisa: ““Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda” (Gn 2:18-NVI).

Naquele mundo maravilhoso, recém-criado, ainda faltava algo. E algo bom. O quê? Eva. A mulher. Feminilidade.

Eva é o ato final, a coroa da criação. Ela foi formada pelas mãos do próprio Deus. “Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez a mulher e a levou até ele” (Gn 2:22-NVI)

Foi para exercer a função para a qual Deus a destinou que a mulher foi feita de maneira diferente, a partir de um pedaço de outro ser humano. Ela seria voltada primeiro para as pessoas e teria, como parte principal de sua missão, o trabalho de ministrar aos outros seres humanos. Essa é a essência da feminilidade, o que é ser mulher.

A palavra auxiliadora na língua original do Antigo Testamento é a palavrinha “ezer”, que significa: algo ou alguém que está ao redor, dando apoio, dando suporte, ajudando, socorrendo. É usada em apenas dois lugares para se referir à mulher como auxiliadora do homem (Gn 2:18 e 20). Em todas as outras mais de cinqüenta vezes que aparece no Antigo Testamento ela é usada para se referir a Deus como o ajudador, o socorro, o amparo de Seu povo.

Ao usar a palavra “ezer” para se referir à mulher, Deus estava mostrando que ela, de uma forma única, revelaria algo importante a respeito da Sua essência. Deus é essencialmente relacional. Toda a Bíblia nos revela Seu coração amoroso, ansiando pelo amor dos seres que criou. Por isso Ele fez a mulher com o coração voltado primeiro para os seus relacionamentos. E Deus nos fez assim porque tem uma missão especial para nós, o ministério dos relacionamentos, da feminilidade. E esse ministério deve ser exercido onde quer que Ele nos colocar.

Há três áreas específicas nas quais ministramos de maneira especial através da nossa feminilidade – dentro de casa, na igreja e no mundo. Falaremos da primeira aqui, em toda a sua complexidade e variedade, e das outras duas no próximo número da nossa revista.

O ministério da auxiliadora em casa.

Nosso primeiro ministério, o mais importante, é dentro de nossa própria casa. Cabe a nós, as auxiliadoras idôneas, resgatar esse ministério que tem sido tão desprezado.

Não precisamos olhar longe para ver quanto os lares estão sofrendo em nossos dias. Divórcios e separações grassam em toda a sociedade e os lares cristãos não estão imunes aos seus efeitos. Com isso, todos nós temos pago um alto preço. Na nossa cultura tão tecnologicamente avançada, as pessoas estão doentes, precisando de ajuda de profissionais para sobreviver como seres humanos. Por isso mesmo, o ministério da auxiliadora dentro de casa é mais importante do que nunca. Nossos lares, nossas famílias estão sendo devastados por todo tipo de ataque e cabe às ministras dos relacionamentos arregaçar as mangas e lutar por eles.

A Palavra de Deus deixa bem clara a responsabilidade da mulher pelo que acontece com sua casa: “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba” (Prov. 14:1). Para podermos edificar nossas casas, Deus nos deu um poder que precisa ser exercido com toda sabedoria. Está em nossas mãos a edificação do nosso lar ou a sua ruína. Não somos as únicas responsáveis, é claro, mas o nosso papel ninguém fará tão bem quanto nós podemos fazer. E se falhar essa parte, dificilmente o lar sobreviverá.

Quando falo do ministério da mulher dentro de casa, não estou me referindo apenas à que é casada e mãe de filhos. Embora a maioria das mulheres viva essa situação, há inúmeras outras que vivem uma realidade diferente – são separadas, divorciadas, solteiras ou viúvas. Entretanto, todas receberam de Deus o mesmo coração voltado primeiro para as pessoas. Se a mulher é casada, sua prioridade tem de ser seu marido e seus filhos, mas mesmo que ela não seja casada, não precisa viver sozinha, a não ser que assim decida.

Uma das pessoas que mais influenciou minha vida foi uma tia, irmã de minha mãe, que nunca se casou. Tia Dirce foi uma mulher em cujo coração se abrigaram todos os sobrinhos. Ela nos amava, mimava, educava. Sabíamos que tínhamos ali uma aliada e defensora. Sua casa estava sempre aberta aos familiares que nela encontravam abrigo e conforto nas horas de necessidade. Ela cuidou do pai viúvo, da irmã doente, doando-se por eles de todo o coração. Morreu rodeada pela sobrinhada que a amou como a uma segunda mãe. Nela se cumpriu a promessa de Deus: “[Ele] faz com que a mulher estéril viva em família e seja alegre mãe de filhos” (Sl 113:9).

A outra coisa que precisamos considerar no ministério da ajudadora dentro do lar é que ele tem dois aspectos distintos. O primeiro é o dos serviços domésticos. O segundo é o das pessoas.

Sei perfeitamente que os serviços domésticos são considerados tediosos e rotineiros, mas isso se apenas focalizarmos as tarefas em si. Se considerarmos cada serviço como uma prova de cuidado e carinho àqueles a quem amamos, ele se transformará em ministério. Disso nos deixou exemplo o próprio Senhor Jesus, que não se acanhou em desempenhar os mais humildes serviços para com seus amigos, lavando-lhes os pés, cozinhando para eles na praia quando já estava em Seu corpo ressurreto.

Se servir nossa família inclui executar serviços humildes, repetitivos, até mesmo cansativos, ao fazê-los estaremos seguindo o exemplo do nosso Senhor que disse não ter vindo para ser servido, mas para servir (Mt 20:28).

Entretanto, por mais necessários que sejam esses serviços, eles não constituem a parte mais importante do nosso ministério dentro do lar.

Recentemente, um canal de televisão mostrou um programa da BBC, rede de televisão inglesa, que falava das diferenças entre os homens e as mulheres. Um dos episódios mostrou um casal que vivia de forma contrária à maioria das famílias. O marido, cuja profissão lhe permitia trabalhar em casa através do computador, assumiu as tarefas normalmente desempenhadas pela mulher. Aprendeu a cozinhar, limpar, lavar roupas, acompanhar os estudos dos filhos, aprontar o lanche para eles levarem à escola, levar ao dentista, aos treinos esportivos – tudo, enfim, que faz parte da vida da mãe da família. A esposa era engenheira e precisava bater ponto no trabalho todos os dias. Assim, eles combinaram a troca dos papéis. Quando entrevistado, aquele senhor falou o seguinte:

“Aprendi a cuidar da casa e faço isso sem o menor problema. Mas há uma coisa que não consigo aprender, por mais que me esforce. Quando um dos meus filhos está triste ou aborrecido com alguma coisa, se ele não vier me contar, eu nem percebo o que está acontecendo. Não percebo mesmo! Mas quando minha mulher chega em casa, bate os olhos nele e já sabe que há um problema que requer atenção especial. E sabe o que fazer a respeito. É algo instintivo nela. E isso eu não tenho!!”

Esse “algo instintivo” é a essência da feminilidade, a especialização para a qual Deus capacitou a mulher. Quando oferecemos a essência de quem somos como ajudadoras, complementadoras de nossos maridos, educadoras de nossos filhos, encorajadoras de todos aqueles que nos cercam no círculo familiar, estamos edificando a nossa casa com sabedoria, construindo pontes entre as gerações, formando aquelas redes preciosas dos relacionamentos familiares.

Nosso ministério em casa tem também fases distintas, nas quais coisas diferentes serão exigidas de nós. Muitas vezes, é na época da vida em que estamos mais velhas, que achamos já ter cumprido a nossa missão na família que surge um novo desafio para nós – o cuidado dos idosos da família. Uma amiga, que por muitos anos dirigiu com amor e dedicação um abrigo para idosos, recentemente teve de abrir mão desse trabalho para cuidar dos idosos da própria família. Essa é a sua prioridade.

Mais uma vez, Jesus é o nosso exemplo. Quando sofria a agonia da morte na cruz, vendo a mãe ali, desamparada, Ele a confia aos cuidados do discípulo amado, dizendo: “Eis aí tua mãe.” No mesmo dia, João a levou para casa e cuidou dela, imagino que até o fim de sua vida.

Cuidar de pessoas idosas é um dos importantes ministérios que Deus nos confiou. É uma tarefa difícil, não raras vezes espinhosa, pois o idoso tem seus problemas especiais, mas não há ninguém que possa desempenhá-la melhor do que nós. Nem sempre podemos cuidar da pessoa idosa em casa, mas em qualquer circunstância, podemos estar junto dela, demonstrando amor e cuidado, fazendo com que ela sinta-se segura e abrigada enquanto estiver aqui na terra.

Nossa vida é definida pelas prioridades que escolhemos. Como a mulher virtuosa de Provérbios 31, podemos exercer todo tipo de atividade, desde os serviços mais simples e rotineiros nos cuidados da casa ao exercício de qualquer profissão, contanto que jamais o coloquemos acima do bem de nossa família. Foi o que ela fez. E a conclusão é uma que todas nós queremos para a nossa história. O marido e os filhos lhe prestam um tributo de gratidão e admiração por tudo o que ela foi para eles e por tudo o que lhes permitiu serem. E tenho a certeza de que nenhuma honraria alegraria mais o seu coração.