Artigo para a SAF em Revista

O Ministério da Auxiliadora - conclusão

O ministério da auxiliadora no corpo de Cristo

Além da nossa família imediata, como filhas de nosso Pai, fazemos parte de outra família, uma família maior que se estende por todo o mundo. Os laços que nos unem são tão reais e concretos quanto os que nos unem aos que são nossos parentes. A comunhão com esses familiares espirituais é uma das maiores bênçãos que recebemos quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador.

Já tive diversas vezes na vida o privilégio de morar em outro país. Em todos os lugares onde morei eu estava em casa quando ia à igreja. Fui sempre recebida de braços abertos. A fé era a mesma, era o mesmo Senhor, o mesmo Pai. As diferenças culturais eram aceitas e valorizadas. Era realmente uma família. Hoje temos irmãos queridos, com quem convivemos durante alguns anos, em diversas partes do mundo. Mesmo distantes uns dos outros, continuamos trocando correspondência, mantendo-nos a par do que está acontecendo na vida de cada um, cultivando esses preciosos laços de amizade cristã que não terminarão aqui na terra, mas nos unirão por toda a eternidade.

E é nessa família maior que a mulher tem também um ministério extraordinário e específico para cumprir. Seu papel é evidente desde a cultura restritiva do Antigo Testamento. As leias que hoje nos parecem tão limitadoras eram parte do cuidado protetor de Deus por Suas filhas. Ele nos fez como somos, conhece os cuidados especiais de que precisamos e já proveu para o nosso bem estar desde que saímos do jardim do Éden.

Se examinarmos a história do povo de Deus, veremos o papel importante que coube às mulheres, muitas vezes em posições de liderança – Sara, Míriam, as filhas de Zelofoade, em favor de quem Deus mudou a legislação sobre herança, Tamar, Débora, Raabe, Noemi, Ester, Jael, Hulda, entre outras. Deus não tem problema em colocar Suas filhas em posições de destaque se precisar delas ali. E a todas que Ele chamou para lugares assim, também capacitou e ajudou a levar a bom termo a sua missão.

Continuando nessa tradição, desde os primeiros dias da família cristã, quando Jesus ainda se encontrava entre nós, as mulheres ocuparam um lugar destacado. Um grupo delas O seguia em suas caminhadas, ministrando a Ele com seus bens e seus préstimos. Imagino-as chegando a um lugar onde Jesus iria pregar ou curar, arrumando água para lavar Seus pés, providenciando alimento, um lugar limpo para Ele descansar. Individualmente, muitas outras mulheres tiveram encontros importantes com Jesus. De algumas, não sabemos o nome – a mulher samaritana, a viúva de Naim, a mulher cananéia, a pecadora que ungiu os pés do Mestre, mulheres doentes que foram curadas de diversas enfermidades, a mulher apanhada em adultério. De outras, o nome é bem conhecido – as irmãs Marta e Maria, Maria Madalena, Joana, Suzana, Salomé e Maria, Sua mãe.

As mulheres estiveram ao lado Dele na caminhada dolorosa ao lugar da crucificação, ficaram firmes diante da cena horrenda da cruz e foram as primeiras a saber da ressurreição. Elas amaram Jesus com uma devoção inabalável e tudo afrontaram para estar ao lado Dele sempre que possível.

Na igreja primitiva, as mulheres enfrentaram as lutas e perseguições junto com os homens. Foram lançadas na prisão, expulsas de seus lares, mortas como mártires pelas feras das arenas em Roma, mas não esmoreceram. Como Priscila, trabalharam com as mãos, fazendo tendas, e com a mente, instruindo o eloqüente pregador Apolo nas doutrinas da fé cristã que ele desconhecia. Priscila foi fiel parceira de seu marido e com ele constituiu uma equipe de preciosos ajudadores para o apóstolo Paulo. Lídia dirigia seu próprio negócio como comerciante de púrpura e abriu sua casa à pregação do evangelho e à fundação de uma nova igreja. As filhas de Felipe foram profetisas. Dorcas, costureira. Algumas são mencionadas apenas como companheiras dos maridos em suas viagens e pregações (1 Coríntios 9:5). Cada mulher, na singularidade que Deus lhe deu, ocupou um lugar específico no propósito Dele para a igreja.

Ele nos deu uma missão como mulheres, antes de qualquer outro trabalho que possamos desenvolver. É a missão de ministrarmos a outras mulheres. Nós, melhor do que ninguém, compreendemos as dores e os sofrimentos que fazem parte da vida de outra mulher. As mais velhas devem ser mentoras das mais jovens, ensinando-as através da nossa vida e das coisas que já aprendemos, a fazerem escolhas corretas, a enxergarem pelos olhos da fé as recompensas que recebe a mulher que teme ao Senhor. O apóstolo Paulo fala especificamente desse ministério confiado às mulheres de ministrarem umas às outras.

Na nossa igreja presbiteriana, esse trabalho tem sido desenvolvido através das sociedades femininas, tão apropriadamente chamadas de auxiliadoras. No aconchego dos lares, das reuniões em pequenos grupos, as mulheres têm aprendido umas com as outras sobre a Palavra de Deus. Na troca de experiências, são encorajadas a permanecerem firmes e continuarem crescendo. Nos trabalhos, aprendem a servir de todas as formas – ministrando aos necessitados, dando aquele toque de reconhecimento e festividade às reuniões da igreja, enfeitando o templo. É o toque feminino que, desde aquelas mulheres que serviam ao Senhor Jesus com seus bens, tem abençoado a vida da igreja e dos que nela congregam.

Entretanto, para Deus, ser é mais importante do que fazer. Só podemos fazer o que Ele preparou para fazermos se nossa identidade feminina estiver firmada em Deus e em Seu propósito para nós. É quando tivermos aquele espírito manso e tranqüilo que é de grande valor diante de Deus, que poderemos contribuir com a nossa feminilidade para os ministérios da igreja aos quais Deus nos chamar, continuando a tradição de compromisso e luta pelo evangelho que caracterizou as santas mulheres do passado.

Do mesmo modo, Deus tem um lugar específico para cada uma de nós em Sua igreja hoje. Se estivermos dispostas a ouvir Sua voz e obedecer, Ele mesmo abrirá a porta para servirmos com os dons especiais com que nos dotou. Servimos a convite Dele, no lugar que Ele determinar para nós. Mulheres fortes, corajosas, sábias, tementes a Deus são instrumentos preciosos em Suas mãos, onde quer que Ele as coloque.

Onde quer que Ele as coloque. Este é o fator importante para considerarmos. Nos dias de hoje, quando as mulheres têm liberdade para ocupar todo tipo de posição, precisamos ser muito cautelosas para não querer abrir nosso próprio espaço, mas discernir a voz e o chamado de Deus e o que Ele quer de nós, submetendo-nos ao Seu propósito para nós e obedecendo com mansidão e o senso de privilégio que vem de sermos usadas para a Sua obra.

O ministério da auxiliadora no mundo

Qualquer que seja o lugar que ocupemos em nosso mundo, Deus deseja que o ocupemos de forma feminina. Foi para um propósito bom que Ele nos fez como fez. Quando criou o homem e a mulher, Ele ordenou a ambos que multiplicassem e enchessem a terra. Para isso, evidentemente, era preciso o masculino e o feminino. Mas a ordem não parou por aí. Deus ordenou também que ambos sujeitassem a terra e a governassem como superintendentes do verdadeiro Dono de tudo. Aqui também, embora nem sempre seja tão óbvio, é necessário o masculino e o feminino.

Quando o mundo é dominado por apenas uma das duas visões, pode tornar-se enfermo e desiquilibrado. Segundo o Dr. Paul Tournier, psiquiatra cristão suíço, “uma civilização construída pelo homem só, é abstrata, fria, técnica, desumana... O homem tem espírito teórico, e a mulher, um espírito mais pessoal. Da mulher e sob sua influência, o homem pode adquirir o sentido da pessoa. É evidente que o homem deve aprender da mulher a importância dos detalhes concretos e pessoais sem os quais as idéias gerais são apenas teorias ocas” (Como Compreender-se no Matrimônio).

Nossa sociedade está inequivocamente doente, sofrendo de males como a violência, a destruição da família, a corrupção, os males causados ao meio-ambiente. Deus tem aberto portas importantes para as mulheres atuarem lado a lado com os homens nas áreas social e política, no mundo da educação e dos negócios. E elas têm-se saído muito bem na maioria dos casos.

Entretanto, se nossa identidade não estiver firmada no Deus que nos fez como somos, ao penetrarmos no mundo fora do lar, estaremos correndo o risco de comprar os ideais que o norteiam e passar a buscá-los para nossa vida também em vez de contribuir como a nossa visão feminina do valor da pessoa para uma mudança nos ideais e objetivos mais importantes.

Devemos, sim, fazer a nossa parte no mundo aí fora, mas como mulheres, com a nossa visão feminina, nossa intuição, nossa maneira de ser. Deus nos chama a ocupar o lugar que Ele projetou para ocuparmos e desempenhar o nosso ministério de revelar ao mundo a beleza, o mistério e a terna vulnerabilidade de Deus que só a mulher, como mulher, pode revelar.