Precisa-se Urgente: Ajudadoras Idôneas

Artigo para a SAF em Revista*


Ali estavam elas. Diante dos nossos olhos, algumas mulheres com uniforme de policiais, relatavam parte dos perigos que enfrentavam corajosamente durante um dia normal de trabalho. Relataram elas as agressões e ferimentos para que devem estar preparadas. A reportagem do noticiário nacional focalizou então duas delas que foram baleadas por traficantes de droga quando ofereciam proteção aos alunos de uma escola da cidade de São Paulo.
Apesar da presença feminina cada vez mais forte em todas as áreas de atividade humana, ainda me surpreendi com a coragem e determinação daquelas moças que escolheram uma profissão tão difícil. Mas elas não estão sozinhas. Ao seu lado, encontramos mulheres exercendo todo tipo de trabalho fora do lar, desde as mais humildes às mais elevadas. Já temos até uma juíza como membro do Supremo Tribunal Federal de nosso país, representando as numerosas mulheres que trabalham na área judicial.

Embora ainda encontremos preconceito, parece que a participação das mulheres no mundo fora do lar é um movimento cuja hora chegou e que dificilmente retrocederá. 

Diversos fatores contribuíram para a invasão feminina do mercado de trabalho. O avanço tecnológico das últimas décadas trouxe a invenção e o barateamento dos eletrodomésticos que liberaram as mulheres de diversos trabalhos manuais cansativos e monótonos. Hoje em dia, muitas de nós dispomos da ajuda de diversas "servas", como a máquina de lavar roupas, os ferros elétricos de passar, liquidificadores, fogões a gás e outras tantas que facilitam tremendamente o trabalho de cuidar da casa. Assim, tarefas que antes tomavam todo o tempo de uma dona de casa hoje podem ser feitos com menos esforço e em muito menos tempo.

Outro fator importante foi o movimento feminista que trouxe à luz as necessidades das mulheres de se realizarem como seres humanos. Começando com voz estridente e atitudes agressivas, esse movimento passou por várias fases mas acabou por dar à mulher o destaque que suas fundadoras visavam.

Esses movimentos, embora não estivessem buscando a vontade de Deus, não deixam de fazer parte do Seu propósito para os seres humanos. Assim, o fato de as mulheres terem a oportunidade de atuar mais diretamente no mundo em que vivemos é uma porta aberta para desempenharmos a tarefa para a qual Deus nos criou. 

Entretanto, apesar de tanto progresso e da liberdade que hoje gozamos, vivemos ainda uma situação que está longe de ser a ideal. Vemos crescer um sem-número de mazelas que afligem os adultos e as crianças de nossa sociedade: violência, relacionamentos desfeitos, gravidez de adolescentes, promiscuidade sexual até em idade precoce, com a consequente proliferação de moléstias sexualmente transmissíveis, pornografia deslavada, crianças criadas por apenas um dos pais, entre outras tantas. Temos uma sociedade tecnologicamente avançada, mas doente na área do bem-estar social.

Além do mais, a vida das mulheres também não está sendo tudo o que foi apregoado que seria. Mulheres estressadas estão sendo vitimadas por doenças que antes pouco nos afetavam, estão tendo de trabalhar muito mais para manter um nível de vida razoável, ou mesmo para sustentar a si e aos filhos cujo pai já não vive ao seu lado, obrigando-as a criar seus filhos sozinhas. É isso o que queremos?

Não!
Ainda queremos nos realizar como seres humanos. Além disso, sabemos que este momento de liberdade, por mais problemas que esteja causando, não teria acontecido sem a permissão do nosso Deus, que é soberano sobre a História da humanidade. Assim, é a ele, na realidade, que devemos tudo o que hoje usufruímos. Entretanto, a liberdade que não leva em consideração como somos e qual o propósito de Deus para nós tem levado a outro tipo de sujeição, pois a liberdade que se baseia nos princípios de Deus não pede a destruição daquilo que nos é mais caro em troca da nossa realização pessoal.

Nossa sociedade precisa com urgência de mulheres como você e eu, que, firmadas nos princípios de Deus para nós, usamos toda a nossa feminilidade para ministrar, com nossos talentos especiais, onde ele mesmo nos colocar. Creio firmemente que essa será a verdadeira revolução feminina.

Sabe por que é tão importante saber essas coisas? Porque hoje há muitas vozes tentando nos dizer como devemos viver para aproveitar toda essa liberdade que foi conquistada para nós. Muitas estão dizendo que devemos olhar para dentro de nós mesmas e descobrir o que o nosso coração deseja. "Temos direito à nossa própria felicidade!" bradam elas. Isso seria o mesmo que o peixinho dizer: "Ah, sinto-me tão limitado vivendo na água. Resolvi que quero viver na praia!" Você acha que seria uma boa idéia? Como não somos nossas próprias criadoras, temos certas limitações inerentes à condição de criaturas.

Vejamos, portanto, o que Deus, o nosso Criador, nos diz em sua Palavra sobre seus planos para nós.

Como Deus Fez a Mulher

Quando fez os seres humanos, Deus os fez como homem e mulher. Em Gênesis, no primeiro relato da criação, lemos que Deus nos fez assim deliberadamente. "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. . .Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gênesis 1:26'28). 

Não é por acaso que somos mulheres. Deus, ao pensar em criar os seres humanos, semelhantes a ele, os criou como homem e mulher. Ele, na sua sabedoria infinita, determinou que seria melhor assim, pois ao fazer o ser humano como homem e mulher, disse que era muito bom. O Deus todo-poderoso nos fez como somos, nos abençoou e nos deu a missão conjunta de encher a terra e sujeitá-la, isto é, administrá-la como bons despenseiros daquilo que nos foi confiado.

No capítulo seguinte do mesmo livro de Gênesis, lemos que Deus fez primeiro o homem e o colocou no jardim do Eden para o lavrar e guardar. Deus olhou toda a criação e a aprovou como sendo boa. Entretanto, o próprio Criador disse que havia algo que não era bom - a solidão. "Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2:18). A idéia de que o homem precisa de uma ajudadora idônea, isto é, alguém à sua altura, adequada para ele, foi de Deus. O homem não percebeu isso, distraído que estava cuidando do jardim. E Deus fez a mulher, de uma maneira diferente da que usara para fazer o homem. Isso também deve chamar a nossa atenção. Deus deliberadamente fez dois seres diferentes, para se complementarem não só fisicamente e voltarem a ser um através da união de seus corpos, mas em todos os aspectos de suas vidas.

Está vendo agora por que é importante o fato de você ser mulher? A nossa existência em si faz parte do plano e do propósito de Deus para a raça humana. Ao dizer que estaria fazendo uma auxiliadora, ou ajudadora, idônea para o homem, Deus usou uma palavra que significa, no original, aquele que cerca, protege, ajuda ou socorre. Somente em duas passagens esse termo é usado para se referir à mulher. Em todos os outros, é usado para se referir a Deus, o ajudador do seu povo. 

Deus criou a mulher com certas características que seriam necessárias para que o mundo fosse administrado da forma sábia e perfeita que estaria de acordo com a sabedoria e perfeição da criação de Deus.

Deus colocou em cada um dos seres que criou algumas coisas que são importantes para cumprirem sua parte no cuidado da criação e do outro. Assim, algumas coisas são naturais para o homem. Outras, são naturais para a mulher. Entretanto, como seres inteligentes, um pode aprender com o outro aquilo que não lhe é natural. É assim que Deus planejou que vivêssemos, e crescêssemos cada vez mais como seres humanos, até a perfeição de humanidade representada por Jesus Cristo. Era um projeto que levaria a vida toda, mas que enriqueceria a vida dos dois de uma forma que nada mais poderia fazer.

Dentre todas as características diferentes com que Deus fez a mulher, há uma que se destaca de modo especial. Por ser em seu corpo que as novas vidas são geradas e criadas até o nascimento, e através dele que são nutridas depois do nascimento, a mulher é ligada de uma forma básica aos filhos, e, consequentemente, às pessoas. O Dr. Paul Tournier, famoso psiquiatra cristãos que escreveu um livro especial sobre as mulheres , fala que a mulher tem o sentido da pessoa, isto é, ela é essencialmente voltada para os relacionamentos e vê sempre as pessoas antes de qualquer outra coisa.

Você concorda com ele? Pare e pense um minuto sobre algo que a esteja preocupando neste momento. É mais do que provável que seja algo relacionado a alguém: marido, filho, pai ou mãe, irmão, irmã, amigo ou amiga. Sempre que converso com alguma mulher, do que acabamos falando? De alguma pessoa. Minha anteninha está sempre ligada para o que os meus queridos estão sentindo ou pensando. Se algum deles está triste, não sossego enquanto não tento fazer alguma coisa. As alegrias deles me levam às nuvens. Vivo primeiro em função daqueles que me cercam.

Deus nos deu esse dom para ajudarmos a equilibrar a cabeça mais lógica do homem, mais voltada para as idéias e para as coisas. No plano perfeito de Deus, o homem e a mulher se complementam de maneira perfeita quando aceitam e respeitam as diferenças que existem entre si, e contribuem com aquilo que lhe é peculiar para a tarefa de cuidar do mundo e conviver com os seres humanos.

Como Vivemos Hoje

É um plano maravilhoso, para ser executado por criaturas maravilhosamente entrosadas e amorosas. Só que as coisas não funcionaram assim. Os seres humanos seguiram um rumo diferente daquele que o seu Criador determinara para eles e resolveram fazer o que lhes deu na telha, aconselhados por aquele que já anteriormente se rebelara contra Deus.

A partir daquele momento fatídico, tudo mudou. As qualidades que Deus colocara em cada uma de suas criaturas, e que deveriam complementar as da outra, enriquecendo ambas ao conviverem e trabalharem, passaram a dificultar essa convivência. Para o homem, o trabalho, que representava a sobrevivência de ambos, seria puxado, penoso, exigindo sua concentração e todo o seu esforço. Pouco tempo e disposição lhe sobrariam para cultivar o relacionamento com a esposa. Para a mulher, as maiores mágoas e sofrimentos viriam na área dos relacionamentos. Ela desejaria um marido, mesmo que este viesse a dominá-la e tolhê-la. Até a grandeza do ato de dar à luz filhos seria toldada pela dor.

Essa é a história que vivemos até hoje. Ainda desejamos nos envolver em relacionamentos acima de todas as outras áreas que podem nos trazer o senso de realização. 

Vou dar aqui alguns fatos interessantes e atuais a respeito das mulheres em geral para você considerar e comparar com a sua realidade.

Desde muito cedo, as meninas desenvolvem a arte de conversar para expressar sentimentos, para compartilhar o que pensam de si mesmas. Elas falam frases inteiras e conversam com as amiguinhas ou consigo mesmas. Estão praticando a arte da comunicação interpessoal, aquela em que nos abrimos com alguém e nos damos a conhecer, tão vital na construção de um relacionamento.

À medida que crescem, as meninas vão ficando cada vez mais conscientes da importância das pessoas para as suas vidas. Recentemente, um programa de televisão mostrou adolescentes que engravidaram propositadamente por pura carência afetiva, pois assim teriam alguém que realmente lhes pertencesse, mesmo que numa situação tão difícil.

Por causa dessa carência, desenvolvemos desde cedo algumas técnicas para tentar controlar nosso mundo e obter o amor e a atenção de que precisamos. Algumas mulheres vivem a vida toda como pessoas indefesas, que parecem nunca ter crescido. Poderíamos chamá-las de "D. Eterna Garotinha". Elas fazem as pessoas que as cercam sentir que precisam cuidar delas ou perecerão. Assim as mantêm presas a si. Há outras que se dispõem a servir os outros de tal maneira que estes jamais possam prescindir delas. São aquelas que nunca dizem não, que estão sempre à disposição de outros. Poderíamos chamá-las de "D. Boa Vontade".
Há ainda aquelas que se esfalfam para manter impecável o seu mundo. Tudo o que fazem é perfeito, tudo o que as cerca tem de ser perfeito. Elas se dão pelas pessoas, mas exigem perfeição em troca. Poderíamos chamá-las de "D. Perfeccionista". E temos ainda aquelas que foram magoadas profundamente nos relacionamentos, talvez a começar com os pais, e que resolveram negar sua necessidade de pessoas. Elas são auto-suficientes, não toleram sentimentalismos, vivem a defender seus direitos e a exigir respeito e atenção dos que a cercam. São tão fofas quanto um porco-espinho. Poderíamos chamá-las de "D. Não Me Toques".
Todas essas técnicas ou estratégias funcionam até certo ponto, e nos dão a impressão de que temos nossas vidas sob controle.

Entretanto, mais cedo ou mais tarde, vai chegar o momento em que percebemos que vivemos inseridas numa realidade maior do que nós, e que não podemos de fato controlar as coisas mais importantes da nossa vida. Pode ser a traição do marido a quem dedicamos os melhores anos de nossas vidas, a rebeldia de um filho ou filha, a fofoca espalhada por uma irmã ou outra parente chegada, uma moléstia difícil ou incurável. A lista é enorme e pessoal. Somos atingidas naquilo que represente o cerne do nosso ser, e temos a impressão de que vamos morrer, de que a vida já não tem valor e nenhum encanto. Tudo fica cinza, sombrio. Sentimos um arrepio na alma e, qual pássaro ferido, nos encorujamos dentro de nós mesmas. 

É então que nos perguntamos: "Valeu a pena? Para que viver?"

A Ajudadora em Ação

O plano de Deus para nós não mudou, mas a missão que ele nos deu é agora muito mais difícil de cumprir porque vivemos num mundo rebelde aos seus princípios. Nossos maridos, filhos, parentes chegados, colegas, chefes, são pessoas que raramente nos dão a aceitação, o respeito e o amor que tanto desejamos.

Lembro-me de uma vez em que fiz uma palestra sobre o incrível valor da mulher a um grupo de senhoras da nossa igreja. Quando terminei, eu podia ver pelo brilho do olhar delas quanto se sentiam valorizadas e especiais. Entretanto, tive de adverti-las: "Queridas amigas, apesar de tudo o que ouviram hoje, não esperem um tapete vermelho quando saírem daqui. Não esperem que os outros reconheçam seu valor como mulheres." E é verdade. Apesar de tudo o que tem sido dito a respeito das mulheres (e olhe que tenho lido um colosso a respeito desse assunto), ainda não somos apreciadas como gostaríamos e deveríamos. E talvez nunca sejamos.

Não podemos depender das pessoas para nos sentirmos valorizadas. Elas não podem nos dar aquilo que tanto desejamos, pois têm suas próprias carências, seus próprios interesses em mente. Veja só, mesmo o melhor marido do mundo não pode prometer que estará sempre ao nosso lado, porque não é ele quem determina a data da sua morte.

Só há uma Pessoa que pode prometer isso, e já o fez. "De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei" (Hebreus 13:5). Ele é o nosso Ajudador, e deseja ser a primeira pessoa de nossa vida porque sabe que somente dentro da esfera do seu amor perfeito e do seu propósito sábio para nós seremos verdadeiramente livres para encontrar e cumprir esse propósito maravilhoso e essencial de sermos as ajudadoras idôneas que ele nos criou para ser, e que é o único que nos dará a perfeita realização como mulheres e como filhas de Deus.

*SAF em Revista é uma publicação da Sociedade Auxiliadora Feminina da Igreja Presbiteriana