Descobrindo Sua Verdadeira Identidade

Artigo para a Revista Essência


Quantas vezes você já questionou, minha amiga, quem realmente é e por que motivo está aqui neste mundo?
A primeira vez que me lembro de ter parado para pensar sobre essas questões foi quando estava com quatro filhos pequenos, todos exigindo muita atenção de minha parte. Eu me sentia como uma pessoa naquelas torturas antigas em que amarravam as pernas e os braços de alguém a quatro cavalos fogosos e depois os tocavam, cada um para um lado, despedaçando a pessoa em quatro. E não sobrava nada. Eu não conseguia ver quem era. Parecia que nem existia além do atendimento que dava à minha família.

Mais cedo ou mais tarde, todas nós fazemos essas perguntas. Começamos a nos conscientizar de quanto somos vulneráveis e dependentes nos relacionamentos no início da adolescência, quando notamos que há mudanças físicas ocorrendo em nosso corpo, nem sempre bem recebidas e agradáveis, e sobre as quais não temos o menor controle. É aqui que a desconfiança de que não somos tão donas do nosso nariz quanto gostaríamos de ser começa a se fortalecer.

Ao mesmo tempo que isso está ocorrendo, há um despertamento para o sexo oposto, e queremos ser amadas, como mulheres, para nos sentirmos valorizadas. Entretanto, a rejeição, real ou percebida, faz parte da vida de todas nós. Todo gesto ou expressão negativos tem um impacto maior do que dez positivos. Por quê? Porque desde pequeninas temos uma forte convicção de que não somos dignas de ser amadas, que essas rejeições só vêm confirmar. 

Por causa da grande dependência que temos das pessoas, somos mais frágeis e vulneráveis emocionalmente, porque não podemos contar com as pessoas para nos darem aquilo de que tanto precisamos. Essa fragilidade se manifesta no fato de as mulheres, na sua juventude, serem sujeitas a doenças como anorexia e bulimia, decorrentes da baixa auto-estima que muitas vezes se manifesta nas mulheres nessa fase da vida. 

Nenhum lar, por mais amoroso que seja, pode oferecer o tipo de amor e aceitação pelos quais nossa alma anseia - um amor forte, perfeito, constante. Crescemos com um senso de insegurança porque precisamos ser amadas assim, ser a pessoa mais importante para alguém. Uma reportagem recente do Globo Repórter mostra uma psicóloga citando o fato de que muitas adolescentes, vindas de lares onde não encontraram o amor de que carecem, engravidam conscientemente, por precisarem de alguém a quem possam chamar de seu.

Esse anseio profundo de nos sentirmos amadas e valorizadas, aliado às rejeições reais ou percebidas que sentimos, nos levam a desenvolver técnicas de manipulação e controle para obtermos aquilo de que necessitamos para sobreviver - o amor e a aceitação das pessoas.

Estratégias de Sobrevivência

Algumas mulheres passam a vida toda como garotinhas. São aquelas que parecem permanentemente incapazes de funcionar bem no mundo adulto. Sua atitude exige que alguém cuide delas. Assim, conseguem manter seus familiares presos ao seu redor, pois se as abandonarem, elas não sobreviverão.

Outras desenvolvem a técnica de hospedeiras . Essas mulheres estão sempre à disposição dos outros, fazendo tudo para todos a fim de se tornarem indispensáveis. Assim, as pessoas passam a precisar delas e não vão ter vontade de deixá-las.

A terceira técnica é a das super-atarefadas. São elas mulheres competentes, rígidas, perfeccionistas, que controlam seus relacionamentos através do que fazem. Tudo tem de sair como elas programam, mesmo que para isso tenham de dedicar toda a sua capacidade e todos os seus esforços.

Um quarto grupo de mulheres poderia ser chamado de feministas. São aquelas mulheres que já sofreram incrivelmente nos relacionamentos com os homens, muitas vezes a começar com o próprio pai, e assim, defendem-se agora renegando os relacionamentos com eles, por causarem tanta dor. Como adultas, elas declaram sua independência, como que dizendo: Não preciso de ninguém. Posso me virar muito bem sozinha, obrigada!*

Através dessas técnicas, adquirimos certo controle sobre o nosso mundo.

Para nós, mulheres, isso envolve um esforço quase sobre-humano, que coincide com o início da idade adulta, quando a produção hormonal está no auge, e nos dá enorme reserva de energia. Achamos que, se dermos tudo o que temos e mais um pouco, chegará o dia em que todos os nossos sonhos se realizarão e dali para a frente a vida será um mar de rosas. 

Fórmula de Sobrevivência

Desenvolvemos uma fórmula prática e simples que passa a reger a nossa vida: 2+2= 5, que, traduzida, seria: O primeiro 2 = Precisamos sentir-nos amadas e valorizadas. Esse fator é uma verdade tão clara e indiscutível como o número de olhos que temos. O segundo 2 = Vamos fazer tudo o que for preciso para alcançar isso. Esse segundo fator também é algo sólido, que está dentro da nossa possibilidade. Mesmo que custe muito, faremos o que for preciso para chegar ao resultado que desejamos. O 5 seria a nossa felicidade, como a vemos: Seremos amadas e valorizadas pelas pessoas a quem amamos e que são importantes para nós. Assim, a felicidade está em nossas mãos, sob nosso controle.

Desilusão

Muitas vezes, obtemos grandes e pequenas vitórias, e isso nos estimula a continuar nesse caminho. Só que, como muitas de nós já descobrimos, mais cedo ou mais tarde vai chegar a hora da desilusão, através de situações que absolutamente não podemos controlar - um filho que se envolve com drogas ou promiscuidade, a gravidez de uma filha adolescente, a descoberta de que o marido é infiel, o abandono, uma doença perigosa, um acidente fatal, etc.

Mesmo nessas situações, muitas vezes ainda tentamos manter o controle negando o que sentimos, ou fugindo, recorrendo a algo que nos traga alívio imediato. Esperneamos, berramos, e desanimamos, perdendo a esperança. Temos de reconhecer que realmente não somos auto-suficientes, e que mesmo os nossos melhores esforços não podem nos dar aquilo de que tanto precisamos.

Quando chegamos ao fim de nós mesmas, quando nenhuma de nossas técnicas funciona, estamos prontas para nos voltar para Deus e descobrir Seu plano maravilhoso para nós.

Já descobrimos que somos dependentes. O que aprendemos agora, na Sua Palavra, é que a nossa dependência é a oportunidade de participarmos de algo muito maior do que qualquer uma de nós poderia ser sem Deus. Ele nos criou com um propósito lindo e grandioso. No comecinho da Bíblia Deus conta como e porque fez a mulher. Primeiro, Ele nos diz que fomos feitas à Sua imagem e semelhança, e colocadas aqui na terra para ajudar o homem a cultivar e a dominar sábia e bondosamente o restante da criação. Em seguida, Ele conta que criou o homem a partir do pó da terra, e depois a mulher, a partir do ser humano já existente, para completá-lo e auxiliá-lo em suas tarefas.

Segundo o Dr. Paul Tournier, eminente psiquiatra suiço cristão, a mulher é essencialmente relacional, pois se interessa primeiro pelas pessoas, depois pelas coisas. E foi feita assim, de uma maneira especial, para cumprir uma missão especial no mundo, um papel que só ela pode desempenhar.

Somos Realmente Especiais?

Para sentir-se bem, a mulher tem de expor seus sentimentos, dores, angústias, sonhos, objetivos, etc.. Ela fala a linguagem do coração. Para ela, o sentimento é mais importante que o fato em si , isolado. Conversar, para ela, é aproximar-se da outra pessoa emocionalmente, e não apenas obter solução para um problema. É promover a intimidade, é construir uma ponte entre o abismo do isolamento que separa os seres humanos. Ela quer se expressar, ser entendida, porque sua maior necessidade como ser humano é a de sentir-se amada e amparada.

A mulher tem a capacidade de se relacionar com várias coisas ao mesmo tempo. A mulher possui uma qualidade importante - a INTUIÇÃO. Segundo o pastor Walter Trobisch, essa é a maior frustração dos homens em relação às mulheres, pois na maioria das vezes elas estão certas quanto a algum assunto, por intuição, enquanto o homem tem de percorrer uma longa estrada lógica de raciocínio para chegar à mesma conclusão. “Desde o Éden as mulheres têm-se especializado em se preocupar com os outros e antecipar as suas necessidades.” Para elas, é sinal de amor oferecer ajuda mesmo quando não solicitada e isto às vezes causa problemas.

A mulher tem a habilidade de poder se concentrar em várias coisas ao mesmo tempo e resolvê-las todas. Diz o psicólogo cristão Gary Smalley que é como se ela tivesse um radarzinho ligado o tempo todo. O homem, geralmente. só consegue resolver um problema após resolver o anterior e se dedica integralmente ao problema em estudo, esquecendo todo o resto.

A mulher se envolve mais com pessoas do que com com coisas e personaliza o seu ambiente. Para ela, qualquer atividade só tem sentido se houver um envolvimento emocional com essa atividade. As pessoas, os sentimentos que as pessoas nutrem são muito mais importantes do que o fato isolado, do que se atingir um objetivo qualquer. A mulher personaliza seu ambiente, e portanto sua casa é uma extensão de si própria. Se a casa está suja, ela está suja. Logo, uma vez estabelecidos vínculos com seu ambiente, ela tem mais dificuldade em quebrá-los.

Foram essas algumas das características especiais que Deus colocou na mulher. Segundo o Dr. Tournier, a raça humana tem avançado consideravelmente na área tecnológica, mas perdido o sentido do valor da pessoa, que precisa ser resgatado. Para essa missão, a mulher foi especificamente capacitada por Deus.

Fora do Paraíso

Infelizmente, logo adiante na narrativa bíblica, lemos que o primeiro casal se voltou contra Deus, tentando tomar seu destino nas próprias mãos e determinar o que realmente seria bom para si. As conseqüências se fizeram sentir na área específica em que o homem e a mulher são mais afetados: ele, na do trabalho, ela na dos relacionamentos. Teria os filhos com dor e desejaria um marido que a dominaria. E é o que vem acontecendo desde que o homem e a mulher foram expulsos do Paraíso.

Entretanto, não é esse o fim da história.

Resgate

No plano de Deus havia a provisão de redenção, mesmo que isso lhe custasse a vida de seu próprio Filho. Assim, Jesus veio ao mundo e morreu por nossos pecados para restaurar nosso relacionamento com Deus. Quem aceitar a dádiva do perdão divino, na pessoa do Senhor Jesus, torna-se uma nova criatura e começa a viver não mais na dependência dos seus próprios esforços, mas na dependência do Deus que ama com aquele amor perfeito e incondicional, inabalável, infinito e constante por que tanto ansiamos.

Ele está operando o seu propósito em tudo o que acontece em nossas vidas. Nada pode nos atingir sem que tenha passado primeiro por suas mãos amorosas e sábias. Ele quer nos dar coisas boas, que o nosso coração deseja, mas nos termos que nos farão refletir cada vez a Sua imagem, como o fez Jesus. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto, aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Romanos 8:28-29).

Como nosso Criador, Deus sabe que a única e verdadeira realização vem de cumprirmos o propósito para o qual fomos criadas. “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28).

E quando começamos a nos enxergar pelos olhos do grandioso amor daquele que passa a ser nosso Pai, percebemos que o seu propósito para nós, como pessoas especiais que somos, equipadas para desempenhar uma missão especial neste mundo, nos trará a única realização que é autêntica, satisfatória.

Assim, na vida de suas filhas amadas, Deus usa as decepções, os sofrimentos para ir quebrando os hábitos de manipulação que trouxemos da nossa antiga vida (as técnicas desenvolvidas quando ainda nos achávamos auto-dependentes), aos quais nos agarramos com firmeza, e aos quais ainda recorremos quando Deus não parece estar fazendo depressa o que queremos.

Entretanto, Ele quer que aprendamos a confiar nele e nos abandonar aos seus cuidados como a criança, trêmula e soluçante, que estende a mão para que a mãe retire o espinho que está ali dolorosamente encravado. “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus...Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:6-7, 13).

Descobrimos que a verdadeira resposta para as questões mais importantes da nossa vida é aquilo que Deus deseja nos dar. Ele disse na sua Palavra: Eu amo você com um amor eterno (Jeremias 31:3). Escolhi você desde antes da fundação do mundo (Efésios 1:4). Eu, o seu Criador todo-poderoso, sou o seu marido e você nunca será envergonhada nem abandonada (Isaías 54:5). Eu é que sei os pensamentos que tenho a seu respeito - pensamentos bons, para lhe dar o que realmente deseja. (Jeremias 29:11).

Ao nos encher, esse amor saciará todos os nossos anseios, e brotará do nosso interior como rios de água viva (João 8:37-38). Então estaremos prontas para exercer o ministério para o qual Deus nos criou e equipou - o de sermos instrumentos do seu amor na vida das outras pessoas. 

Seremos mulheres sábias, fortes e bondosas; diligentes, mas não super-atarefadas; caprichosas, mas não perfeccionistas; vulneráveis às pessoas, mas não dependentes delas; femininas, em toda a beleza da feminilidade, segundo Deus a criou, dando glória a Deus através de quem somos.

Que Deus a abençoe ricamente, minha irmã, e a conduza pelos seus caminhos rumo à realização de todo o seu potencial como mulher, para a glória daquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.